Terror Noturno: Quando o Susto Acontece Dormindo (e Você Nem se Lembra!)
- Priscila Stacul

- 25 de ago.
- 4 min de leitura

Imagine a cena: silêncio da madrugada, todos dormindo profundamente, quando de repente... um grito pavoroso ecoa pela casa. Você corre para o quarto do seu filho (ou acorda com seu parceiro) e o encontra sentado na cama, de olhos arregalados, suando, talvez até gritando ou se debatendo. Parece a cena de um filme de terror, mas ele não está te vendo. Na verdade, ele ainda está dormindo.
Calma, não precisa chamar os Caça-Fantasmas! Muito provavelmente, você acabou de testemunhar um episódio de Terror Noturno. E antes que você entre em pânico, vamos desvendar esse mistério do sono que assusta mais quem está acordado do que quem está "vivendo" a experiência.
O que diabos é o Terror Noturno? (A explicação sem "psicologuês")
O Terror Noturno, ou Pavor Nocturnus para os íntimos, é um tipo de parassonia, um nome chique para comportamentos estranhos que acontecem durante o sono. Ele ocorre na fase mais profunda do sono, chamada de sono NREM (Não-REM), geralmente na primeira metade da noite.
Pense no cérebro como um funcionário tentando mudar de turno. No terror noturno, acontece um pequeno "bug" nessa transição: parte do cérebro quer continuar no sono profundo, enquanto outra parte já está tentando despertar. O resultado é essa confusão toda: a pessoa está fisicamente ativa (gritando, se mexendo), mas mentalmente "offline", sem consciência do que está acontecendo.
Sintomas Clássicos do Terror Noturno:
Gritos agudos e repentinos.
Sentar-se na cama abruptamente.
Expressão de medo intenso, olhos abertos, mas com um olhar "vazio".
Suor, respiração ofegante e coração acelerado (taquicardia).
Pode haver agitação, chutes ou tentativa de sair da cama.
Dificuldade extrema para ser acordado ou consolado.
Amnésia total do episódio na manhã seguinte. A pessoa não se lembra de absolutamente nada.
Terror Noturno vs. Pesadelo: O Duelo dos Sustos Noturnos
Essa é a principal confusão! Embora ambos envolvam medo, eles são eventos completamente diferentes. Vamos colocar os dois no ringue para entender melhor:
Característica | Terror Noturno | Pesadelo |
Quando acontece? | No primeiro terço da noite (sono profundo NREM). | Mais para o final da noite/início da manhã (sono REM). |
Como a pessoa fica? | Agitada, grita, se debate, olhos abertos, mas está dormindo. Inconsolável. | Geralmente quieta, pode resmungar. Acorda assustada. |
Memória do evento? | Nenhuma! Amnésia total. A pessoa não sabe que aconteceu. | Sim! Lembra de detalhes da história assustadora e do sentimento de medo. |
Como acorda? | Dificilmente acorda. Se acordar, fica confusa e desorientada. | Acorda completamente e geralmente busca consolo. |
Resumindo com bom humor: no terror noturno, o susto é todo seu. No pesadelo, o susto é da pessoa que sonhou (e talvez seu, por tabela).
Causas e Gatilhos: Quem Apertou o Botão do Pânico?
O terror noturno é mais comum em crianças (afetando até 6,5%), pois seu sistema nervoso central ainda está amadurecendo. É como um software em fase de testes, às vezes dá uns "bugs". Na maioria das vezes, desaparece sozinho com o crescimento.
Principais fatores e gatilhos:
Em crianças: Privação de sono (o principal vilão!), febre, cansaço extremo, bexiga cheia ou estresse.
Em adultos: É bem menos comum, mas quando ocorre, costuma estar ligado a estresse intenso, ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), uso de álcool ou outras substâncias, ou outros distúrbios do sono, como a apneia.
Manual de Sobrevivência: O que fazer (e NÃO fazer) durante uma crise
Se você presenciar um episódio, sua calma é a ferramenta mais importante.
NÃO TENTE ACORDAR A PESSOA! Essa é a regra de ouro. Tentar despertá-la pode aumentar a agitação, a confusão e a duração do episódio. Lembre-se: ela não está em perigo real, é só um "curto-circuito" cerebral.
GARANTA A SEGURANÇA: Apenas fique por perto para garantir que a pessoa não se machuque. Se ela sair da cama, guie-a suavemente de volta. Afaste objetos que possam causar acidentes.
FALE COM UMA VOZ CALMA: Diga coisas tranquilas como "está tudo bem, você está seguro". Mesmo que ela não responda, um tom calmo ajuda.
ESPERE PASSAR: Os episódios costumam ser curtos, durando de poucos segundos a alguns minutos. Logo a pessoa voltará a dormir tranquilamente.
NÃO COMENTE NA MANHÃ SEGUINTE: Como a pessoa não se lembra de nada, perguntar sobre o "show de horrores" da noite anterior só vai gerar ansiedade e confusão desnecessárias, especialmente em crianças.
Quando Procurar Ajuda Profissional?
Na maioria das vezes, o terror noturno em crianças é benigno e passageiro. No entanto, é hora de buscar uma avaliação profissional se:
Os episódios são muito frequentes (várias vezes por semana).
Há risco de a pessoa se machucar ou machucar outros.
O comportamento causa sonolência excessiva e cansaço durante o dia.
Os episódios persistem na adolescência ou começam na vida adulta.
Um psicólogo pode ajudar a identificar e manejar fatores de estresse e ansiedade. Em alguns casos, uma avaliação com um médico especialista em sono pode ser necessária para investigar outras condições, como a apneia obstrutiva do sono.
O terror noturno é um fenômeno impressionante, mas geralmente inofensivo. Compreender que ele não é um pesadelo e que a pessoa não está sofrendo ou consciente é o primeiro passo para lidar com a situação de forma tranquila e segura. Cuidar da higiene do sono (ter rotinas relaxantes, horários regulares para dormir, um ambiente escuro e silencioso) é a principal forma de prevenção.
E se a preocupação persistir, não hesite em procurar ajuda. Um profissional pode oferecer a orientação necessária para que as noites de toda a família voltem a ser tranquilas e, principalmente, sem sustos.







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