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Transtorno Bipolar: o que é, como identificar e como viver com mais equilíbrio emocional?


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Você já ouviu alguém dizer: “Fulano é muito bipolar, muda de humor o tempo todo!”


Essa frase, comum, revela um equívoco perigoso: usar “bipolar” como sinônimo de “instável” banaliza uma condição clínica séria, que afeta a vida de milhões de pessoas e seus relacionamentos.

O Transtorno Bipolar é um transtorno de humor crônico, complexo e tratável, que vai muito além das oscilações naturais de humor que todos experimentamos.


O que é o Transtorno Bipolar?

O Transtorno Bipolar (TB) é caracterizado por alterações extremas e cíclicas no humor, energia, comportamento e pensamento. Essas alterações vão desde episódios de mania ou hipomania (euforia, agitação) até episódios de depressão profunda (tristeza, lentidão, desesperança).

O problema não é "estar feliz ou triste" é a intensidade, duração e impacto dessas mudanças.

Segundo a OMS, o TB afeta cerca de 45 milhões de pessoas no mundo.


Os tipos de Transtorno Bipolar


  1. Transtorno Bipolar tipo I


  • Pelo menos 1 episódio de mania (com ou sem episódios depressivos).

  • A mania é intensa a ponto de comprometer a vida social, profissional ou exigir internação.


  1. Transtorno Bipolar tipo II


  • Pelo menos 1 episódio de hipomania + 1 episódio de depressão maior.

  • A hipomania é uma forma mais leve de mania, sem perda total de julgamento da realidade.


  1. Ciclotimia


  • Oscilações mais leves de humor, com sintomas subclínicos (mais leve) de hipomania e depressão, que duram mais de 2 anos.


Como identificar os episódios?

Fase maníaca (ou hipomaníaca):

  • Euforia desproporcional ou irritação intensa

  • Fala acelerada, pensamento rápido

  • Redução da necessidade de sono

  • Impulsividade: gastos excessivos, decisões arriscadas, comportamento sexual imprudente

  • Grandiosidade (“eu sou invencível”)

  • Aumento de energia e agitação psicomotora


Mania = sintomas duram pelo menos 7 dias, com grande prejuízo funcional

Hipomania = sintomas duram pelo menos 4 dias, com menor impacto


Fase depressiva:

  • Tristeza profunda, desesperança

  • Fadiga constante

  • Perda de interesse nas atividades

  • Alterações no apetite e no sono

  • Pensamentos de culpa, inutilidade ou até ideação suicida


A depressão bipolar pode ser confundida com depressão unipolar por isso o diagnóstico exige observação dos dois polos.


Causas:

O Transtorno Bipolar tem origem multifatorial, ou seja, depende da combinação de vários elementos:


Genética

Histórico familiar é um fator de risco importante. Ter um parente de primeiro grau com TB aumenta significativamente as chances.


Neuroquímica

Alterações nos neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina influenciam o humor e a regulação emocional.


Fatores ambientais

  • Traumas na infância

  • Estresse extremo

  • Abuso de substâncias psicoativas

  • Ciclos irregulares de sono


Diagnóstico: um desafio clínico

O diagnóstico é clínico, baseado na história do paciente, sintomas e impacto funcional. Pode levar anos para ser corretamente identificado, especialmente quando os episódios de mania são sutis.

Muitos pacientes são diagnosticados inicialmente com depressão e recebem tratamentos que podem piorar os sintomas se não forem adequados.

Não existem exames laboratoriais que comprovem o TB. A escuta clínica é o principal recurso.


Tratamento: é possível viver com qualidade de vida

Medicamentos (psiquiatra)

  • Estabilizadores de humor: como lítio, lamotrigina, valproato

  • Antipsicóticos atípicos: como quetiapina, olanzapina

  • Antidepressivos: apenas com muito cuidado e sempre associados a estabilizadores


Psicoterapia (psicólogo)

  • A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajuda o paciente a identificar gatilhos, regular emoções, monitorar comportamentos de risco e desenvolver estratégias de enfrentamento.

  • A Psicanálise pode auxiliar na compreensão das emoções inconscientes, da autoimagem e das relações familiares que influenciam o funcionamento emocional do sujeito.


Estilo de vida

  • Higiene do sono

  • Evitar álcool e drogas

  • Prática regular de atividades físicas

  • Redes de apoio sólidas


A importância do apoio familiar

Família e pessoas próximas precisam:

  • Ser informadas sobre a doença

  • Evitar julgamentos (“é só força de vontade”, “toma jeito”)

  • Estimular o tratamento, sem impor

  • Ajudar a reconhecer sinais precoces de recaída

  • Participar de grupos de apoio, se necessário

Cuidar de quem tem bipolaridade é importante, mas quem cuida também precisa de acolhimento.


E os mitos mais comuns?

  • “Pessoa bipolar é perigosa”: A maioria dos pacientes não apresenta comportamentos violentos. O risco aumenta quando não há tratamento adequado.

  • “Bipolaridade é só frescura ou falta de caráter”: É uma condição neuropsiquiátrica reconhecida internacionalmente.

  • “Se está bem, pode parar os remédios”: A estabilidade acontece justamente porque há tratamento. Parar por conta própria é um grande risco.

  • “A medicação não muda quem você é. Ela devolve a sua mente para um estado em que você pode ser quem é.” - Ana Beatriz (psiquiatra)


Se você ama alguém com TB, sua função não é “controlar a doença”, mas ajudar essa pessoa a reconhecer que precisa de ajuda.

Ter Transtorno Bipolar não é o fim da estabilidade emocional. Com diagnóstico correto, apoio e tratamento adequado, é possível levar uma vida rica, afetiva, produtiva e saudável.

Respeito, informação e acolhimento são tão importantes quanto o medicamento. E se você ou alguém que ama vive isso saiba que há caminho, há ajuda e há esperança.



 
 
 

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