Transtorno Bipolar: o que é, como identificar e como viver com mais equilíbrio emocional?
- Priscila Stacul

- 7 de ago.
- 3 min de leitura

Você já ouviu alguém dizer: “Fulano é muito bipolar, muda de humor o tempo todo!”
Essa frase, comum, revela um equívoco perigoso: usar “bipolar” como sinônimo de “instável” banaliza uma condição clínica séria, que afeta a vida de milhões de pessoas e seus relacionamentos.
O Transtorno Bipolar é um transtorno de humor crônico, complexo e tratável, que vai muito além das oscilações naturais de humor que todos experimentamos.
O que é o Transtorno Bipolar?
O Transtorno Bipolar (TB) é caracterizado por alterações extremas e cíclicas no humor, energia, comportamento e pensamento. Essas alterações vão desde episódios de mania ou hipomania (euforia, agitação) até episódios de depressão profunda (tristeza, lentidão, desesperança).
O problema não é "estar feliz ou triste" é a intensidade, duração e impacto dessas mudanças.
Segundo a OMS, o TB afeta cerca de 45 milhões de pessoas no mundo.
Os tipos de Transtorno Bipolar
Transtorno Bipolar tipo I
Pelo menos 1 episódio de mania (com ou sem episódios depressivos).
A mania é intensa a ponto de comprometer a vida social, profissional ou exigir internação.
Transtorno Bipolar tipo II
Pelo menos 1 episódio de hipomania + 1 episódio de depressão maior.
A hipomania é uma forma mais leve de mania, sem perda total de julgamento da realidade.
Ciclotimia
Oscilações mais leves de humor, com sintomas subclínicos (mais leve) de hipomania e depressão, que duram mais de 2 anos.
Como identificar os episódios?
Fase maníaca (ou hipomaníaca):
Euforia desproporcional ou irritação intensa
Fala acelerada, pensamento rápido
Redução da necessidade de sono
Impulsividade: gastos excessivos, decisões arriscadas, comportamento sexual imprudente
Grandiosidade (“eu sou invencível”)
Aumento de energia e agitação psicomotora
Mania = sintomas duram pelo menos 7 dias, com grande prejuízo funcional
Hipomania = sintomas duram pelo menos 4 dias, com menor impacto
Fase depressiva:
Tristeza profunda, desesperança
Fadiga constante
Perda de interesse nas atividades
Alterações no apetite e no sono
Pensamentos de culpa, inutilidade ou até ideação suicida
A depressão bipolar pode ser confundida com depressão unipolar por isso o diagnóstico exige observação dos dois polos.
Causas:
O Transtorno Bipolar tem origem multifatorial, ou seja, depende da combinação de vários elementos:
Genética
Histórico familiar é um fator de risco importante. Ter um parente de primeiro grau com TB aumenta significativamente as chances.
Neuroquímica
Alterações nos neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina influenciam o humor e a regulação emocional.
Fatores ambientais
Traumas na infância
Estresse extremo
Abuso de substâncias psicoativas
Ciclos irregulares de sono
Diagnóstico: um desafio clínico
O diagnóstico é clínico, baseado na história do paciente, sintomas e impacto funcional. Pode levar anos para ser corretamente identificado, especialmente quando os episódios de mania são sutis.
Muitos pacientes são diagnosticados inicialmente com depressão e recebem tratamentos que podem piorar os sintomas se não forem adequados.
Não existem exames laboratoriais que comprovem o TB. A escuta clínica é o principal recurso.
Tratamento: é possível viver com qualidade de vida
Medicamentos (psiquiatra)
Estabilizadores de humor: como lítio, lamotrigina, valproato
Antipsicóticos atípicos: como quetiapina, olanzapina
Antidepressivos: apenas com muito cuidado e sempre associados a estabilizadores
Psicoterapia (psicólogo)
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajuda o paciente a identificar gatilhos, regular emoções, monitorar comportamentos de risco e desenvolver estratégias de enfrentamento.
A Psicanálise pode auxiliar na compreensão das emoções inconscientes, da autoimagem e das relações familiares que influenciam o funcionamento emocional do sujeito.
Estilo de vida
Higiene do sono
Evitar álcool e drogas
Prática regular de atividades físicas
Redes de apoio sólidas
A importância do apoio familiar
Família e pessoas próximas precisam:
Ser informadas sobre a doença
Evitar julgamentos (“é só força de vontade”, “toma jeito”)
Estimular o tratamento, sem impor
Ajudar a reconhecer sinais precoces de recaída
Participar de grupos de apoio, se necessário
Cuidar de quem tem bipolaridade é importante, mas quem cuida também precisa de acolhimento.
E os mitos mais comuns?
“Pessoa bipolar é perigosa”: A maioria dos pacientes não apresenta comportamentos violentos. O risco aumenta quando não há tratamento adequado.
“Bipolaridade é só frescura ou falta de caráter”: É uma condição neuropsiquiátrica reconhecida internacionalmente.
“Se está bem, pode parar os remédios”: A estabilidade acontece justamente porque há tratamento. Parar por conta própria é um grande risco.
“A medicação não muda quem você é. Ela devolve a sua mente para um estado em que você pode ser quem é.” - Ana Beatriz (psiquiatra)
Se você ama alguém com TB, sua função não é “controlar a doença”, mas ajudar essa pessoa a reconhecer que precisa de ajuda.
Ter Transtorno Bipolar não é o fim da estabilidade emocional. Com diagnóstico correto, apoio e tratamento adequado, é possível levar uma vida rica, afetiva, produtiva e saudável.
Respeito, informação e acolhimento são tão importantes quanto o medicamento. E se você ou alguém que ama vive isso saiba que há caminho, há ajuda e há esperança.







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