Transtorno de Personalidade Borderline (TPB): entre o amor intenso e o medo da perda
- Priscila Stacul

- 7 de ago.
- 3 min de leitura

O que é o Borderline?
De acordo com o DSM-5 e a CID-11, o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um padrão persistente de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, na autoimagem e nos afetos, acompanhado de impulsividade significativa.
Essa instabilidade não é simples “mudança de humor”: é um modo de funcionamento emocional que interfere diretamente na vida da pessoa e no modo como ela percebe o mundo.
A CID-11 descreve o TPB como um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia das expectativas culturais, manifestado por instabilidade emocional, imagem de si distorcida, impulsividade e dificuldades significativas nos relacionamentos.
A visão de Mentes que Amam Demais
A Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva descreve o borderline como alguém que vive no limite emocional: ama demais, sofre demais e teme a rejeição como uma ameaça à própria sobrevivência afetiva.
“O borderline não quer ferir o outro. Quer desesperadamente evitar a dor do abandono, mas o medo é tão intenso que suas reações acabam afastando quem ele mais quer por perto.” - Ana Beatriz
Critérios diagnósticos segundo o DSM-5
Para o diagnóstico de TPB, é necessário que o indivíduo apresente pelo menos cinco dos nove critérios a seguir:
Esforços frenéticos para evitar abandono real ou imaginado
Padrão de relacionamentos instáveis e intensos, alternando entre idealização e desvalorização
Perturbação de identidade (autoimagem instável ou senso de self difuso)
Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais (gastos, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente, compulsão alimentar)
Comportamento suicida recorrente ou automutilação
Instabilidade afetiva (mudanças rápidas de humor)
Sentimento crônico de vazio
Raiva intensa ou dificuldade em controlá-la
Ideação paranoide transitória ou sintomas dissociativos severos em momentos de estresse
Como o borderline ama e sofre
Mentes que Amam Demais explica que o TPB é marcado por um amor de intensidade avassaladora, mas que se transforma rapidamente em raiva ou afastamento quando a pessoa se sente ameaçada.
Na prática:
No início do relacionamento: idealização (“Você é a melhor pessoa do mundo”)
Ao menor sinal de rejeição: desvalorização (“Você nunca se importou comigo”)
Retorno: reconciliação intensa, reforçando o ciclo
Isso cria um padrão exaustivo para ambos e, muitas vezes, relações que parecem um “iô-iô emocional”.
Neurociência e causas
O TPB é multifatorial, envolvendo:
Predisposição genética (histórico familiar de transtornos de humor ou personalidade)
Traumas precoces (abuso, negligência, abandono)
Alterações neurobiológicas em áreas ligadas ao controle emocional (amígdala, córtex pré-frontal)
Ambiente invalidante: quando as emoções da criança não são reconhecidas ou acolhidas
O ciclo emocional borderline
A literatura clínica e Mentes que Amam Demais descrevem um padrão comum:
Aproximação intensa
Medo de perda
Teste emocional do vínculo
Conflito ou afastamento
Culpa e reconciliação
Esse ciclo pode ocorrer várias vezes na mesma semana — ou no mesmo dia.
Tratamento e manejo
O TPB tem tratamento, mas exige abordagem integrada:
Psicoterapia especializada
DBT (Terapia Dialética Comportamental) é a mais indicada
Terapia Focada no Esquema
TCC adaptada
Medicação para sintomas associados (antidepressivos, estabilizadores de humor), sempre acompanhado por um psiquiatra
Psicoeducação para paciente e família
Construção de rotina e hábitos saudáveis
Mentes que Amam Demais reforça: “Tratar borderline não é apagar quem a pessoa é. É ensinar a administrar uma intensidade que antes era destrutiva.”
Papel da família e parceiros
O suporte de familiares e parceiros é essencial, mas precisa de limites claros:
Não responder com agressividade a explosões emocionais
Validar o sentimento, mesmo discordando da reação
Evitar “entrar no jogo” de idealização/desvalorização
Estimular e apoiar o tratamento contínuo
Manter sua própria saúde mental com terapia, sempre
O Transtorno de Personalidade Borderline não é “frescura” nem “drama”. É um transtorno complexo, reconhecido pelos principais manuais médicos do mundo, e que causa sofrimento real e profundo.
Com tratamento, compreensão e limites saudáveis, é possível ter relações mais equilibradas e uma vida emocional menos dolorosa.
O primeiro passo é informação de qualidade e, se necessário, buscar ajuda profissional.







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